[Sermão] Os princípios não negociáveis para os católicos na política

Sermão para o XIII Domingo depois de Pentecostes
07 de setembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

Caros católicos, hoje é dia 7 de setembro. Devemos procurar rezar de modo particular pelo nosso país.

Estamos às portas de mais uma eleição em nosso país. Surgem, então, as propostas de cada um dos candidatos, com relação aos mais variados temas. É doloroso, porém, constatar que os temas de capital importância para nosso país são deixados de lado ou rapidamente descartados sem muita discussão quando surgem. Como se fôssemos seres puramente materiais, o tema que mais ocupa o noticiário e os debates é o da economia, em uma visão reducionista do ser humano e da sociedade. A economia tem, claro, sua relevância, mas ela é bem inferior aos temas que dizem respeito aos fundamentos da nossa sociedade e que moldam o nosso país agora e no futuro.

Entre esses temas fundamentais estão os que o Papa Bento XVI havia chamado no seu pontificado de princípios não negociáveis para os católicos na política. O Papa mencionou três princípios não negociáveis, quer dizer, princípios que um católico não pode desconsiderar quando se trata de eleger um candidato, de votar. O primeiro deles é a proteção da vida inocente em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até sua morte natural. Nesse primeiro princípio, está claro que o Papa se refere ao aborto, à eutanásia e a outros assuntos conexos, como a pesquisa com células-tronco embrionárias. O aborto, como sabemos, é o assassinato do bebê ainda no ventre materno. A eutanásia é o assassinato de um doente, tirando dele os meios ordinários de sobrevivência ou matando-o simplesmente, com uma injeção ou algo do gênero. A pesquisa com células-tronco embrionárias é aquela que usa e mata os embriões, em geral fruto de inseminação artificial – inseminação artificial que é gravemente proibida pela Igreja Católica – para pesquisas nas mais diversas áreas ou simplesmente para se fazerem cosméticos. As pesquisas com células-tronco embrionárias são completamente ilícitas porque matam uma vida humana, e, além disso, têm mostrado pouquíssimos resultados. As pesquisas com células-tronco adultas, tiradas de órgãos de pessoas adultas não é ilícita e, essa sim, tem mostrado resultados. Deus faz as coisas bem feitas, caros católicos. Portanto, o primeiro ponto não negociável é a proteção da vida inocente em todas as suas fases, desde a concepção até sua morte natural.

O segundo ponto não negociável é a promoção da família natural, na verdade o único tipo de família que existe, com a união entre um só homem e uma só mulher pelo matrimônio indissolúvel. De modo particular, o católico deve defender a família diante das tentativas do reconhecimento legal de uniões de pessoa do mesmo sexo. Diz a nota doutrinal da Congregação para a Doutrina da Fé de 2003 sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais: “Em presença do reconhecimento legal das uniões homossexuais ou da equiparação legal das mesmas ao matrimónio, com acesso aos direitos próprios deste último, é um dever opor-se-lhe de modo claro e incisivo. Há que se abster de qualquer forma de cooperação formal na promulgação ou aplicação de leis tão gravemente injustas e, na medida do possível, abster-se também da cooperação material no plano da aplicação. Nesta matéria, cada qual pode reivindicar o direito à objecção de consciência.” Portanto, não se trata de se opor simplesmente ao “casamento” homossexual, mas trata-se de se opor a qualquer reconhecimento legal dessas uniões. No Brasil, um reconhecimento legal foi feito insidiosamente no Supremo Tribunal Federal e sua aplicação foi forçada pelo Conselho Nacional de Jusitça, à revelia da população majoritariamente contra.

Finalmente, o terceiro princípio não negociável mencionado por Bento XVI é o direito dos pais de educarem os filhos. A família antecede o Estado. Portanto, por direito natural cabe aos pais educar os filhos e não cabe ao Estado impor o que ele bem entende, como a ideologia do gênero ou o indiferentismo religioso, por exemplo. O Estado, com seus planos nacionais de educação, tem querido cada vez mais monopolizar a educação de nossas crianças e jovens, querendo obrigar a entrada na escola cada vez mais cedo, estendendo os horários, etc. A educação é direito e dever primeiramente dos pais, por lei natural.

Deve ser para todos evidente que uma sociedade em que os pais matam os filhos, em que os filhos matam os pais idosos, ou em que se mata uma vida inocente simplesmente para se poder viver com mais tranquilidade e sem ter tanto trabalho, é uma sociedade corrompida no seu fundamento. Uma sociedade que reconhece e legitima as uniões homossexuais, uniões que não se voltam para a perpetuação da espécie humana, uniões que não podem dar frutos, que não podem gerar vida, uniões que se opõem ao mais elementar dado da realidade, que é a complementaridade entre um homem e uma mulher – uma sociedade que reconhece e legitima essas uniões está corrompida no seu fundamento. Uma sociedade em que a família não é a principal educadora das crianças e dos jovens é também uma sociedade corrompida no seu fundamento. Pode até ser que tenha durante certo tempo uma prosperidade econômica, mas aquela prosperidade que realmente importa, que é a da virtude, já não existe. E uma sociedade corrompida moralmente a tal ponto está fadada a desaparecer e a ser castigada por Deus.

São esses os três princípios não negociáveis de que nos falava o Papa Bento XVI. É claro que os outros princípios da lei natural e da lei divina não podem ser negociados. Não se pode negociar o princípio, sempre afirmado pela Igreja, da impossibilidade de ser católico e socialista ou comunista ao mesmo tempo. Ou se é uma coisa ou outra. Não se pode negociar o princípio de que a Igreja católica é a verdadeira religião revelada por Deus e que, consequentemente, ela deva ser reconhecida como tal pelo Estado. E assim por diante. Nenhum princípio da fé, da Revelação ou da lei natural pode ser negociado. O que devemos destacar é que esses três princípios não negociáveis mencionados pelo Papa bento XVI estão realmente no fundamento de tudo, não só da sociedade civil, mas também da Igreja. Se uma sociedade cede em um desses três pontos, todo o resto automaticamente desmorona.

E esses três pontos de fundamental importância são completamente negligenciados pelos mais diversos candidatos. Os temas que realmente importam para a sociedade são silenciados, pois pode ser que a sociedade se dê conta desses gravíssimos erros e do suicídio que significam. Esses temas são silenciados porque os principais candidatos são favoráveis em maior ou menor escala a esses erros. Quando alguém ousa levantar algum desses temas e tratar deles devidamente, apontando os problemas e perigos gravíssimos, é logo tratado de fundamentalista religioso. De fundamentalismo religioso não há nada. Primeiro, são temas que dizem respeito à lei natural, independentemente da religião. Nossa razão compreende que não se pode matar um bebê, compreende que não se pode matar um doente. Nossa razão compreende que a união entre duas pessoas é em vista da procriação, da geração dos filhos. Nossa razão compreende que a família é a primeira sociedade onde se educam os filhos. E, ainda que fosse um tema estritamente religioso, é preciso dizer que a Igreja poderia afirmar e deveria reafirmar a sua doutrina, para, com a luz do Evangelho, evitar um grande mal para a sociedade.

Corremos o risco, caros católicos, de ver nosso país se afundar cada vez mais em um socialismo difuso – cada vez menos difuso e mais palpável -, em um relativismo moral ainda mais drástico e pernicioso, em um esquecimento completo da lei natural e da lei de Deus. Nós precisamos fazer a nossa parte. E nossa parte começa pelas nossas famílias, por famílias católicas, em que os filhos são bem educados, em que os membros buscam, cooperando entre si, cumprir a vontade de Deus em todas as coisas e chegar ao céu. Fazer nossa parte com famílias católica numerosas, de onde saíram bons padres, bons religiosos e religiosas. Famílias católicas de onde saíram futuros maridos e esposas católicas que terão famílias católicas numerosas, com vocações e assim por diante. É assim que faremos nossa parte para restaurar tudo em Cristo. Devemos também professar publicamente a nossa fé, sem respeito humano, nos ambientes em que vivemos e agir na esfera pública na medida de nossas possibilidades e sempre em conformidade com a doutrina católica.

Rezemos e façamos a nossa parte por nosso país, para que ele não seja como esses dez leprosos ingratos do Evangelho de hoje. As terras brasileiras receberam de Deus um grande favor, que foi a colonização feita pelos católicos portugueses, que nos trouxe a luz do Evangelho, que nos trouxe Nosso Senhor Jesus Cristo. Se renegarmos essa graça, corremos sérios riscos de cairmos em paganismo pior que o dos índios. Peçamos, nessa novena de Nossa Senhora das Dores, também pelo Brasil, e que Deus tenha piedade de nós.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O Bom Samaritano

Sermão para o XII Domingo depois de Pentecostes
31 de agosto de 2014 – Diácono Tomás Parra

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

Reverendo Padre, Caros irmãos,

Neste 12º Domingo depois de Pentecostes, o Evangelho nos narra que, estando Jesus entre os doutores da lei, um deles levantou-se e disse-lhe, para tentá-lo: “Mestre, que devo eu fazer para possuir a vida eterna?”. Nosso Senhor, por sua vez, cheio de mansidão, lhe propôs também uma questão, seguindo seu custume quando era Ele mesmo testado, e disse: “Que é que está escrito na lei? Como lês tu?”. O doutor, respondendo, disse: “Amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças, com todo teu entendimento; e o teu próximo como a ti mesmo”. Nosso Senhor então, responde: “Respondeste bem; faz isso, e viverás”, como dizendo, faz isso sempre e terás a vida eterna.

“Mas quem é meu próximo?”. Esta pergunta do doutor mostra a soberba dos escribas, que acreditavam serem poucos os que mereciam seu amor. E foi também a ocasião para Cristo tomar a palavra e ensinar a parábola do Bom Samaritano, que é o quadro mais belo e mais perfeito que se poderia fazer do amor do próximo.

Nessa parábola do Evangelho, caros irmãos, Nosso Senhor descreve a Si mesmo. Ele é o Bom Samaritano que trata o homem com uma misericórdia admirável e divina. Ele é o exemplo perfeito de amor de Deus e do próximo.

Primeiramente, caros irmãos, o Bom Samaritano olha cheio de compaixão para aquele homem ferido e despojado de seus bens, e se aproxima dele. Ora, esse homem somos nós, pecadores, despojados de todas as riquezas de ordem sobrenatural por causa do pecado. Nosso Senhor se aproximou de nós pela sua Encarnação, mistério no qual ele manifesta a sua onipotência, e o tão grande amor que teve por nós, que o levou a rebaixar-se e a assumir, num ato de infinita humildade, uma natureza humana frágil, capaz de sofrer, de sofrer por nós. Ele aproximou-se, também, deste homem ferido, pela maneira que quis se apresentar ao mundo, comendo com os pobres, com os pecadores, levando uma vida humilde, e escolhendo, muitas vezes, no povo simples os seus apóstolos, aos quais devia confiar sua missão. Além disso, a cada dia, Nosso Senhor vem sobre o altar, na missa, para pagar pelos nossos pecados e nos fortalecer pela comunhão.

Tendo-se aproximado, o Bom Samaritano ligou-lhe as feridas. Eram muitas essas feridas deste homem abandonado meio morto pelos ladrões. Muitos eram os ferimentos do homem decaído pelo pecado. Na verdade, caros irmãos, depois do pecado, o homem havia perdido a graça santificante, que é a amizade com Deus, a vida sobrenatural da alma. Seu entendimento estava obscurecido para as verdades mais fundamentais da religião. Sua vontade, debilitada por ter apegado o coração à criatura e o afastado do Criador, deixando-se por isso, muitas vezes, dominar pela concupiscência; seu corpo estava submetido à doença e à morte, e suas paixões ficaram como revoltadas e seguindo sem controle a lei da concupiscência.

Mas Nosso Senhor, nosso Bom Samaritano, por amor, vai tratar e curar estes ferimentos. Na cruz, Ele nos alcança de novo a graça santificante, estabelecendo uma Nova Aliança entre Deus e os homens. Pelos seus ensinamentos, Ele iluminou nossa inteligência, ampliando a revelação divina. Ele fortaleceu nossa vontade, nos dando a esperança, que nos faz desejar as coisas do céu, e a caridade sobrenatural, que educa nossos amores segundo Deus. Com seu exemplo, ensinou-nos que a morte é uma passagem para uma vida incorruptível e bem-aventurada, e, morrendo por nós, fez das misérias desta vida meios para ganharmos méritos para a vida eterna.

Em seguida, o Bom Samaritano, deitando azeite e vinho sobre as feridas, representa Jesus Cristo, que através dos sacramentos aplica sua misericórida e seus méritos, apagando nossos pecados e nos fortalecendo pela graça para uma vida nova, uma vida santa. O azeite e o vinho são, por um lado, a doçura misturada com a severidade, com as quais Nosso Salvador nos cura, nos perdoando e nos corrigindo. Por outro lado, representam a palavra de Deus, que ao mesmo tempo revela verdades suaves que conduzem ao arrependimento e verdades terríveis que fazem o pecador temer por sua condenação.

Depois disso, caros irmãos, o Bom Samaritano coloca o homem sobre sua montada, para levá-lo. Fazendo isso, ele representa Cristo, que assumindo a natureza humana, nos elevou para perto de Deus. Pois Ele tomou sobre si nossos próprios pecados, de tal forma que pudéssemos ser incorporados a Ele para formar seu Corpo Místico. Além disso, Nosso Senhor nos eleva do chão, ou seja, nos tira de nossos vícios, oferecendo-nos um exemplo perfeito de obediência a Deus Pai, de humildade, de mansidão e de todas as virtudes. E, também, a cada dia nos auxilia em nossos trabalhos e sofrimentos, nos chamando com estas palavras: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo, e eu vos aliviarei”. Este gesto de tomar nos braços o pecador significa também associá-lo à sua Cruz, à obra da Redenção.

A estalagem, para onde é levado o homem ferido, simboliza a Igreja Católica, a quem Nosso Senhor confiou todos os homens, antes de subir aos Céus; e é unicamente na Igreja Católica que eles acharão todos os auxílios próprios para curar as suas chagas, e para fazê-los obter uma saúde perfeita, a salvação.

O Bom Samaritano, que segundo o Evangelho de hoje, agiu como o próximo desse homem ferido, é figura de Cristo Nosso Senhor, que se fez homem para ser nosso próximo, e assim tudo dispôs para nossa salvação.

Tendo nos dado o exemplo deste amor ao próximo, que é, aliás, sinal e condição do amor de Deus, Cristo nos deixou o “mandamento novo”: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.

Que a meditação destas verdades e o exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo nos façam, caros irmãos, estar atentos aos sofrimentos e necessidades de nossos próximos, nos ensine a ter compaixão e a dedicarmos, em favor deles, nosso tempo, nosso trabalho e nossas próprias pessoas, sobretudo para o bem da alma deles.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A Modéstia no vestir

Sermão para o Segundo Domingo da Quaresma
24 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra.”

Nós, seres humanos, somos formados por corpo e alma. Estamos colocados entre os anjos, que são puro espírito e os seres puramente materiais. No homem, a alma e o corpo estão unidos, formando a própria essência dele. Evidentemente, essa união natural entre a alma e o corpo, querida por Deus, é algo bom. A alma precisa do corpo para realizar suas operações de maneira mais conveniente. A alma, para conhecer as coisas, precisa dos sentidos, da imaginação. São Tomás diz que nada está no nosso intelecto, a não ser que tenha passado antes pelos sentidos. Todo o nosso conhecimento vem pelos sentidos. O corpo é, portanto, um bem para a nossa alma, um bem para o ser humano. A alma separada age de modo menos perfeito do que quando se encontra unida ao corpo e, por isso, ela deseja a ressurreição do corpo, após a morte.

Todavia, é claro que a parte mais nobre do composto humano é a alma, parte espiritual, e que pode conhecer a verdade e amar o bem. É pela parte espiritual ou racional, quer dizer, pela inteligência e pela vontade, que nos distinguimos dos animais brutos. E no homem, como em todas as coisas, o inferior deve estar subordinado ao superior. Portanto, é a razão que deve dirigir as ações do nosso corpo, é a razão que, reconhecendo a nossa natureza e reconhecendo a natureza e a finalidade das nossas faculdades, deve ordenar todas as nossas ações. A ordenação dos nossos atos segundo a razão constitui a virtude. A virtude é, então, a ordenação dos nossos atos, de forma que eles sejam conformes à nossa natureza de animais racionais.

Entre esses atos que devem ser ordenados pela razão estão os atos exteriores: as palavras, os gestos e também o vestir. A razão nos mostra com relação ao vestir que ele tem uma finalidade básica e principal, que nos é dada pela própria Revelação. Essa finalidade é a decência.

Quando Deus criou Adão e Eva, os dois estavam em estado de graça e haviam recebido da bondade divina o dom da integridade. Isso significa que todas as suas paixões estavam plenamente subordinadas à razão. Não havia em Adão e Eva nenhuma desordem no campo da concupiscência e, por isso, não precisavam se vestir. A exposição do corpo entre eles, portanto, não era motivo para nenhum pensamento, desejo ou ato desordenado. Assim, a Sagrada Escritura diz que eles não se envergonhavam.

Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Todavia, nossos pais cometeram o pecado original, que foi um pecado de orgulho – que não teve nenhuma relação com o sexto mandamento, deixo claro. Ao cometerem o pecado original, a razão e a inteligência se revoltaram contra Deus e a faculdades inferiores e as paixões, que se encontravam plenamente submissas à razão, revoltaram-se contra ela. A Sagrada Escritura nos mostra claramente isso com relação ao corpo: os olhos de ambos se abriram e tendo conhecido que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram para si cinturas. Todavia, essas poucas folhas de figueira não eram suficientes para evitar a desordem e Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Então, caros católicos, o corpo é em si mesmo bom e é a obra material mais perfeita que saiu das mãos do criador. A Igreja Católica reconhece a excelência do corpo e é a maior defensora da honra e da dignidade do corpo, pois ela reconhece o devido lugar do corpo, subordinado à alma. A Igreja reconhece a excelência do corpo ao ponto de não favorecer a cremação do corpo. Quem odeia o corpo são aqueles que não reconhecem o seu devido lugar, subordinado à alma. Quem odeia o corpo são aqueles que o colocam acima da razão e submetem a razão às paixões e usam o corpo de forma indevida. Ao longo da história, vemos que os que mais permitem desordens com o corpo são os que o odeiam. Assim foi com os gnósticos e os cátaros, por exemplo. Essas heresias consideravam o corpo como intrinsecamente mau e, portanto, o entregavam a todo tipo de desordem, com a condição de que se impedisse a geração de uma nova vida, de um novo corpo.

Hoje, é exatamente o que vemos em nossa sociedade. Ela exalta tanto o corpo porque o odeia. Ela não reconhece o lugar do corpo. Ela permite tudo ao corpo e todas as desordens, desde que uma nova vida não seja gerada. As pessoas passam a vida inteira submetendo-se ao corpo para, no final, queimá-lo, cremando-o, com esse costume pagão que tem cada vez mais força entre nós. A Igreja respeita o corpo durante a vida da pessoa e reconhecendo a sua dignidade não vê com olhos favoráveis a cremação. Portanto, caros católicos, se alguém reconhece a bondade e a dignidade do corpo é a Igreja, que chega a proclamá-lo Templo do Espírito Santo, pois nossa alma, em que pode habitar o Espírito Santo, está unida ao corpo intimamente.

Depois do pecado original, apesar de nosso corpo ser em si bom, devemos nos vestir, devemos esconder algumas partes do nosso corpo, a fim de não provocar nos outros maus pensamentos, maus desejos, maus atos em virtude das paixões desordenadas. Depois do pecado original, o pudor e a modéstia são indispensáveis. O pudor consiste na vergonha salutar no que toca ao sexto mandamento e que leva as pessoas a cobrirem as partes de seu corpo que podem levar outras pessoas a caírem na impureza. Foi o que Deus fez com Adão e Eva, cobrindo-os com túnicas. A modéstia é a virtude que nos leva a ordenar nosso aparato exterior, em particular as vestes, a fim de que elas cumpram bem a finalidade delas: esconder certas partes do corpo. A primeira dessas finalidades é a decência.  Para que uma veste seja chamada decente, ela deve cobrir aquelas partes do corpo que induzem o homem de virtude média ao pecado. Essas partes que devem ser absolutamente cobertas são aquelas que se encontram entre os joelhos e os ombros, incluindo os dois. Portanto, a roupa deve cobrir o joelho em todas as posições, inclusive quando se está sentado com as pernas cruzadas. As roupas devem ter mangas também e não basta cobrir os ombros com o véu quando se vem comungar.

O Cardeal Vigário de Roma na época do Papa Pio XI diz que “um vestido não pode ser chamado de decente se é cortado mais que a largura de dois dedos sob a cova da garganta, se não cobre os braços pelo menos até os cotovelos, e se mal chega até um pouco abaixo dos joelhos. Além disso, os vestidos de materiais transparentes são impróprios…” A única coisa que se permite alterar aqui, e que é admitido por todos os sacerdotes de doutrina moral séria, são as mangas até os cotovelos, mas não se pode admitir a ausência completa de mangas.

E para que vestir-se de modo diferente do que diz o Cardeal Vigário? Para que mostrar o nosso corpo? Para que atrair os olhares dos outros sobre nosso corpo? Isso só é lícito entre marido e mulher, em vista da procriação. Para que se mostrar para os outros? O que se ganha a expor o corpo aos outros? Isso lhe fará ganhar o céu? Ao contrário. Para que ser ocasião de pecado para os outros? E não adianta dizer que, se o outro tem pensamentos ruins, a culpa é dele. Não. Nós somos responsáveis pela salvação das almas dos nossos irmãos. Ai daquele que é causa de escândalos, nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tudo isso aqui se aplica sobremaneira à mulher, pois a mulher tem uma inclinação natural a buscar agradar o homem pelo seu aspecto físico e o homem tem uma inclinação natural a deixar-se levar por isso. Vemos isso claramente no livro do Gênesis, em que Eva é apresentada a Adão, que encontra nela agrado. Se essa inclinação permanece sóbria e moderada, dentro da modéstia, ela é algo bom. Se ela se torna excessiva pela indecência, pelo excesso de ornato ou pelo luxo no ornato, ela se torna ruim. Desse modo, a modéstia não é sinônimo de deselegância. A modéstia não se opõe à elegância. A elegância é perfeitamente bem-vinda, desde que seja modesta e sem excessos, sem atrair para si os olhares.

Alguns pretendem dizer que a moda indecente já é tão comum que ela não provoca mais as paixões desordenadas. Isso é falso. A partir de certo ponto, dizem os moralistas, as vestes indecentes sempre trarão prejuízo para o pudor, para a pureza. Esse limite é justamente os ombros e os joelhos, que devem estar sempre cobertos. E ainda que as modas indecentes não conduzissem ao pecado contra o sexto mandamento, o cristão não deve se contentar com os padrões de uma sociedade decadente, corrompida e neo-pagã. Os jesuítas não se contentaram com a ausência de vestes dos índios, embora os índios estivessem habituados a isso. Eles mudaram a maneira de vestir dos indígenas.

Em virtude da união que existe entre a alma e o corpo que falamos mais acima, as vestes têm duas funções importantes. Primeiramente, a veste é reflexo da alma da pessoa. Portanto, se vestir mal reflete uma desordem espiritual, interior. Por outro lado, nossas ações exteriores e, consequentemente, nossas vestes têm uma influência em nossa alma. Assim, por exemplo, rezar de joelho ou rezar de pé criam disposições distintas em nossa alma. Roupas indecentes geram na alma consequências prejudiciais com relação à pureza e levará a um jeito de se comportar indecente: a um jeito de andar, de sentar, de falar que não convém. Por outro lado, roupas modestas levam a alma a se resguardar melhor contra os pecados opostos ao sexto mandamento. As roupas decentes criam na alma uma disposição que leva a pessoa a andar, a sentar, a falar de um modo que convém para cristãos.

Na segunda-feira de Carnaval falamos aqui da luxúria e de suas consequências graves para a sociedade. Em particular, vimos que a luxúria conduz ao amor de si mesmo, ao ódio a Deus. Vimos que a luxúria conduz ao apego à vida presente e ao desespero das coisas do alto. Vimos que a luxúria mata não só a alma daquele que a comete, mas destrói também a sociedade, como falamos na ocasião. Como chegamos nessa sociedade em que tudo, praticamente, se move pela luxúria? Uma das principais causas é a falta de modéstia no vestir. A modéstia é a guardiã da castidade. Sem a modéstia não há castidade. Sem castidade, não há amor a Deus. Por mais que a intenção da pessoa não seja ser objeto do olhar das outras pessoas, ela será e será ocasião de pecado, se ela se veste indecentemente. Uma boa intenção não é suficiente para tornar uma ação ruim, boa. Assim, vestir-se imodestamente por que está calor, por exemplo, não se justifica.

Portanto, caros católicos, é preciso usar vestes modestas. Espero que todos tenham entendido e comecem agora a seguir plenamente esses ditames. Se não compreenderam, passem a seguir por obediência ao sacerdote. A obediência também é uma virtude excelente. E, para deixar claro, as regras de modéstia não se resumem à Igreja. Essas regras de modéstia devem ser observadas sempre e em todo lugar. Repitamos: As vestes devem cobrir tudo o que está entre os joelhos e os ombros, incluindo joelhos e ombros, e em qualquer posição (de pé, sentado, ajoelhado). As vestes devem, portanto, possuir mangas e devem ser sem decotes. 2) As vestes não devem ser transparentes nem em tom de pele e 3) não devem ser apertadas ou coladas ao corpo. Será necessário um grande esforço, um grande desapego. Mas ele é necessário. E Deus nos dá as graças para fazê-lo. E será grande a recompensa de quem praticar a virtude do pudor e da modéstia, tão esquecidas, mas tão essenciais para uma vida católica. Aproveitemos o tempo da quaresma. Ele é muito propício aos esforços. Deus saberá recompensar esse ato de caridade da pessoa para consigo mesma e para com o próximo.

A modéstia é também vestir-se em conformidade com o próprio estado, com as circunstâncias, com o grau de formalidade do lugar, da atividade e levando em conta a dignidade da pessoa com quem se está. Assim um sacerdote que aparece em público sem a batina ou o hábito clerical – contrariando, aliás, o Direito Canônico – comete uma falta contra a modéstia, pois não se veste conforme ao seu estado. Em geral, como católicos, devemos nos vestir conforme ao nosso estado de católicos. Portanto, como pessoas que levam a vida à sério, buscando agradar a Deus.

Evitem-se, então, as roupas desleixadas, com símbolos pagãos, com inscrições contrárias à religião, etc. Sobretudo na Igreja é indispensável observar a modéstia também nesse ponto. A roupa deve ser adequada àquilo que há de mais importante na face da Terra: a Casa de Deus, sobretudo quando nela se realiza o Santo Sacrifício da Missa.  A pessoa deve, então, vestir-se com dignidade para ir à Missa, evitando vestes demasiado informais. Particularmente, sejam abolidas as vestes que contenham desenhos (de animais, de pessoas etc) ou alguma mensagem escrita, mesmo para as crianças. Também não sejam usadas roupas com personagens de desenho, com frases escritas, camisetas de times de futebol, calças rasgadas, bermudas, moleton, etc. Nada disso condiz com a santidade e a dignidade do lugar. Não se deve, porém, cair no erro oposto. Dignidade com simplicidade e sem exageros.

É próprio da virtude da modéstia também que homens e mulheres se vistam de forma a diferenciar o sexo de cada um e de forma a exprimir o papel de cada um na sociedade. As vestes semelhantes de homens e mulheres causam muitos danos às próprias pessoas e à sociedade. Como disse, as vestes exprimem uma disposição da alma e terminam também influenciando o nosso comportamento. Se homens e mulheres se vestem igualmente, haverá um grande problema. E esse problema nós vivemos hoje. Os homens são cada vez mais efeminados. As mulheres cada vez mais masculinizadas. O homossexualismo se difunde. Portanto, é preciso haver diferença na maneira de vestir do homem e da mulher e que essa maneira seja clara e modesta. E isso  não só na Igreja, mas em todos os lugares.

As veste imodestas ofendem ao Sagrado Coração de Jesus e por isso dizemos no Ato de Desagravo ao Sagrado Coração: “queremos nós hoje desagravar-vos, particularmente da licença dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência […]. Nossa Senhora de Fátima também insiste na Modéstia, ao ponto de a letra da música de Nossa Senhora de Fátima nos lembrar disso. Diz a letra: “Vesti com modéstia, com muito pudor, olhai como veste a Mãe do Senhor!” Eis o nosso modelo para a modéstia no vestir: Nossa Senhora, para as mulheres, e São José, para os homens.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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[Sermão] “A Parábola do Semeador” ou “Os deveres do sacerdote e dos fiéis”

Sermão para o Domingo da Sexagésima
03 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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“Saiu o semeador a semear a sua semente (…) e uma parte caiu em terra boa e, depois de nascer, deu fruto, a cem por um.”

No Domingo da Sexagésima temos a bem conhecida parábola do semeador e dos diferentes terrenos em que cai a semente. O semeador é, antes de tudo, Deus, e a semente é a sua Divina Palavra. Mas o semeador é também os sacerdotes, encarregados por Deu de ensinar todas as nações. Os diferentes terrenos são as almas diversamente dispostas a receber a pregação da Palavra Divina. No Domingo da Sexagésima, a Igreja continua a querer nos dispor para uma boa quaresma, para uma quaresma que dê frutos a cem por um. Para nos dispor todos a uma boa Quaresma, que possa realizar em nós uma profunda conversão, a Igreja lembra ao semeador o seu dever de pregar e lembra às almas o dever de serem uma terra boa.

[Os deveres do sacerdote]

O bom semeador deve, em primeiro lugar, pregar a Palavra de Deus e não a sua própria. É necessária fidelidade extrema ao que ensina a Igreja, ele deve transmitir aquilo que recebeu, sem corrupção, sem emenda. Um sacerdote que prega outra coisa que a doutrina de Cristo, prega ventania e colherá tempestade. É o que vemos hoje. Prega-se muita ventania e colhe-se tempestade e não uma primavera, como querem muitos. Diz o Livro dos Provérbios (XXX, 6) “não acrescentes nada às palavras de Deus para não serdes por isso repreendido e achado mentiroso”. O sacerdote deve ter verdadeira pureza de intenção: seu fim tem que ser dar testemunho da verdade, para que todos tenham vida. Não deve buscar fins menos honestos como o renome, os elogios, a glória desse mundo. O sacerdote, além disso, deve ter uma vida de oração profunda e deve pregar também com o exemplo. O exemplo é indispensável. Uma pregação que é contrariada por um mau exemplo será quase sempre vã. O sacerdote deve praticar penitências, a fim de que seus ouvintes se disponham bem.  O sacerdote, evidentemente, deve ter uma ciência adequada e uma caridade ardente, pois só pode acender aquele que arde, como dizia São Francisco de Sales. A eloquência do sacerdote é a sua caridade.

Ademais, o Sacerdote deve ter em mente que sua missão é ensinar e não agradar aos ouvintes. O pregador deve, então, perguntar-se com São Paulo: “é o favor dos homens que eu procuro ou o de Deus? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo.” O Apóstolo diz também: “prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, porque virá tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos”. O semeador não deve temer as perseguições por ensinar a verdade divina, nem deve temer os sofrimentos e privações. São Paulo lhe dá o exemplo na Epístola de hoje: cárceres, açoites sem medida; muitas vezes viu a morte de perto; cinco vezes recebeu dos judeus os quarenta açoites menos um; três vezes foi flagelado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufragou, uma noite e um dia passou no abismo; viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de seus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Não é pouca coisa o que sofreu São Paulo para pregar o Evangelho.

Somente tendo isso em mente o pregador cumprirá devidamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide e ensinai todos os povos. Pregai o Evangelho a toda a criatura. Se o pregador insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, muitas vezes de forma inconveniente, ele cumpre simplesmente seu dever. O pregador insiste e desagrada muitas vezes porque tem de salvar a sua alma, o que se faz unicamente pela pregação da verdade revelada.

O pregador deve lembrar-se de que não tem que prestar contas aos homens, mas a Deus. Os fiéis poderão, talvez, dizer que não ouviram a Palavra de Deus, mas o sacerdote não terá desculpa por não tê-la pregado. A Quaresma se aproxima e, nesse tempo, o sacerdote deve cumprir ainda melhor a missão que lhe foi dada pela Igreja: levar as almas ao amor a Deus e à detestação do pecado.

[Os deveres dos fiéis]

Se ao sacerdote cabe o grave dever de anunciar a Palavra de Deus e de anunciá-la continuamente, sem mescla de erro, mas com fortaleza, prudência e ciência, aos fiéis cabe ouvir essa Palavra. E não só ouvi-la, mas colocá-la em prática. Nosso Senhor o diz: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a minha Palavra e a põem em prática” (Luc XI, 28). E o Salmista diz: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Sal XCIV, 8). E, finalmente, São João: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus” (Jo XIV, 24). Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso dispôr a alma pelo desejo de ouvi-la, pelo desejo de deixar o pecado, pela oração. Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso remover os obstáculos: é preciso sair do caminho aberto, é preciso remover as pedras e os espinhos. O caminho aberto é a alma que não se protege, não cerca o terreno. O caminho aberto é a alma em que qualquer coisa pode transitar. É a alma preguiçosa, que não reza e que não foge das ocasiões de pecado. Pode ser também a alma endurecida pelo pecado. O demônio a faz esquecer rapidamente a Palavra de Deus.  O pedregulho são as almas inconstantes. Recebem a doutrina com gosto e alegria, apreciam sua beleza e sua santidade, mas não tomaram a firme decisão de converter-se completamente e permanecem superficiais. Quando chegam as dificuldades, as tentações e as provações, voltam atrás. Os espinhos são as preocupações imoderadas da vida, os prazeres mundanos, o apego aos bens desse mundo. A alma cercada de espinhos recebe a Palavra de Deus, mas logo a esquece e a abandona, preocupada desordenadamente com as coisas desse mundo.

É preciso, caros católicos, ouvir a Palavra de Deus com docilidade e colocá-la em prática. Da fidelidade e da prontidão em recebê-la e em tomá-la por regra depende a nossa salvação. Como diz Nosso Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha Palavra… tem a vida eterna e não incorre no juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo V, 24).

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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Nota do Editor: os subtítulos foram acrescentados por nós e não pertencem ao texto original do padre.

[Sermão] A Ociosidade e a Preguiça Espiritual

Sermão para o Domingo da Septuagésima
27 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Gostaria de fazer um breve comentário sobre o tempo da Septuagésima, antes de passar ao Evangelho. Caros católicos, entramos hoje no tempo da Septuagésima, que compreende os domingos da Septuagésima, da Sexagésima e da Quinquagésima, precedendo a Quaresma. O ano litúrgico começou com o Advento, depois passamos pelo tempo do Natal, que se estende até o dia 13 de janeiro, antiga oitava da Epifania. Em seguida, vem o tempo depois da Epifania, que pode ser mais ou menos longo em função da data da Páscoa. A brevidade do tempo depois da Epifania será recompensada no final do ano litúrgico, em que alguns dos domingos depois da Epifania omitidos no início do ano são retomados, como vimos em novembro. A septuagésima manifesta a bondade da Igreja para com os homens e sua sabedoria. Esse tempo litúrgico que começamos hoje é a transição para a quaresma, a fim de que a passagem para as austeridades não se faça de forma brusca, mas de modo calmo e sereno. São, portanto, duas semanas e meia para que possamos nos dispor bem para o tempo da quaresma. Essa transição está bem marcada na liturgia tradicional, sempre mestra de espiritualidade e doutrina. Assim, os paramentos são da cor roxa, cor penitencial. O Gloria já não é mais cantado, o Alleluia também não. Por outro lado, o órgão ainda é permitido, as flores também são permitidas (embora não as tenhamos hoje). Trata-se, portanto, de preparar, desde já, nosso espírito para a prática mais perfeita e intensa da penitência, da oração e das boas obras que devemos fazer na Quaresma. É o que veremos no Evangelho de hoje que nos prepara para a quaresma ao nos prevenir contra a ociosidade e o mau emprego de nosso tempo.

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Por que estais aqui todo o dia ociosos? … Ide vós também para a minha vinha.

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