[Sermão] Nossa Senhora de Guadalupe: a mensagem contida na imagem

Sermão para a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe
12 de dezembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

O ano é 1531. Os missionários espanhóis encontram bastante dificuldade para evangelizar o povo asteca que habitava a região onde hoje está o México. Podemos atribuir essa dificuldade à influência enorme do demônio nesse povo. Em 1487, por exemplo, em torno de quarenta anos antes da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, houve a consagração do principal templo pagão. Durante 4 dias, 80 mil pessoas foram sacrificadas, em ritos brutais e macabros. Ao longo de cada ano, com essa religião, 50 mil pessoas eram sacrificadas. Sacrifícios humanos. Era essa a cultura dos indígenas. Dado um culto tão profundamente demoníaco, era difícil converter as almas.

Para amolecer esses corações tão endurecidos, Nosso Senhor não teve alternativa. Permitiu que sua Mãe, nossa Mãe, Maria, aparecesse. E com essa aparição as almas finalmente se voltaram a Deus. No dia 9 de dezembro, primeiro dia da oitava da festa da Imaculada Conceição, aquele pobre índio, convertido a Jesus Cristo, atravessava a colina de Tepeyac às 5:30 da manhã, para assistir à Santa Missa para receber o catecismo e cuidar dos seus negócios. Era um índio convertido que ia à Missa, às 5:30 da manhã a pé, atravessando uma colina. Nessa colina, tinham existido anteriormente três templos dedicados à deusa Tonantzin, considerada pelos pagãos astecas mãe dos deuses e dos astecas. Os templos tinham sido demolidos por Cortés. Lá apareceu a verdadeira Mãe de Deus, do único Deus Uno e Trino, dizendo a Juan Diego que ela pedia ao Bispo a construção de uma igreja católica naquele lugar. O índio relata ao Bispo todo o ocorrido. O Bispo age com prudência, sem dar muito crédito, inicialmente.

BishopJuanDiego-370x300É somente com a quarta aparição no dia 12 de dezembro que o bispo se convence da veracidade das aparições. Juan Diego chega, nesse dia, ao palácio episcopal. Com ele, estão rosas de Castilha. Não era a época de rosas e não era um local onde podiam ser encontradas rosas, sobretudo essas rosas. Ele desdobra, então, o seu manto e, nesse manto, aparece a imagem de Nossa Senhora, que hoje chamamos de Guadalupe. O Bispo e os seus servidores se ajoelham e veneram a imagem. Não me prolongarei na história, que cada um pode procurar conhecer a partir de fontes confiáveis.

Gostaria de considerar, porém, a mensagem contida na imagem. A imagem se dirige ao Bispo e aos já católicos, mas ela se dirigia sobretudo aos pagãos astecas. Ela fala, então, a linguagem que eles conheciam muito bem.

Como já dissemos, Nossa Senhora aparece na colina onde estavam os templos pagãos dedicados à deusa pagã considerada a mãe de todos os deuses e dos astecas. Ao aparecer lá, Nossa Senhora diz que ela é a Mãe de Deus e a Mãe dos astecas e de todos os homens. Ela apareceu em um ano que para os astecas significava a plenitude e o nascimento do sol. Ela vai trazer a plenitude e o sol verdadeiros, Nosso Senhor Jesus Cristo. Atrás da imagem, os raios dourados. Daquela Virgem está saindo o sol, que representa Deus.

Eternal_father_painting_guadalupeO manto onde aparece a imagem é grosseiro, de textura imperfeita, impossível de pintar nele. O próprio tecido não costuma durar muito tempo. O que dizer de uma imagem em tal tecido? Mas lá está a imagem até hoje.

Os cabelos estão soltos, indicando sua condição de donzela virgem. As índias casadas levavam o cabelo amarrado em trança.

Nos olhos da Imagem da Santíssima Virgem estão refletidos os bispos e os outros presentes no momento em que se desdobrou o manto de Juan Diego. Ninguém, àquela época, e em tal tecido conseguiria fazer isso. Os indígenas da época também não puderam ver isso na imagem. Apenas recentemente e com a tecnologia moderna é que se tornou possível constatar esse fato estupendo. É uma mensagem para a nossa época moderna, tecnológica. Há quase 500 anos, Deus nos falava claramente.

O broche no pescoço de Maria também é importante. Um colar com um broche no pescoço significa, para os indígenas, submissão e consagração a um Deus. O broche tem uma cruz, espanhola, e mostra a importância de Jesus Cristo sobre Nossa Senhora e mostra a veracidade do Evangelho trazido pelos missionários espanhóis. O único sacrifício agradável a Deus é o de Cristo, na Cruz.

nossa_senhora_de_guadalupeAs mãos de Nossa Senhora, postas em oração, representam também a Igreja que deveria ser construída a mando dela naquela colina. Uma das mãos é mais branca, enquanto a outra mais morena: todos devem se submeter a Maria, para se submeter, assim, a Cristo. O mesmo se pode dizer do rosto da Virgem. Não é europeu nem indígena, mas mestiço.

O laço escuro acima do ventre deixa claro para os indígenas que se trata de uma mulher grávida. Colocavam o laço acima do ventre para permitir o natural crescimento do ventre durante a gestação. E o laço indica também que se trata de uma mulher nobre. Ela é uma donzela Virgem, com os cabelos soltos, mas grávida, com o laço negro acima do ventre.

Na altura do ventre de Nossa Senhora, há uma flor – a única na imagem – com quatro pétalas, que é um símbolo fortíssimo para os astecas. Essa flor indica os quatro movimentos do sol. Representa que Maria está grávida do Menino Sol, daquele que é a Luz do Mundo, o Menino Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa Senhora está sobre o centro da lua que na língua indígena se dizia praticamente México. O pé que aparece indica, para os indígenas, o movimento de oração. Nossa Senhora reza sobre o México, sobre a lua. O pé aparecendo é, na iconografia cristã, símbolo de que Nossa Senhora está grávida.

O anjo que sustenta o manto da Senhora tem as feições de um índio. É um jovem guerreiro do exército do sol, que agora deverá ser soldado de Cristo. Representa Juan Diego e nele todo o povo. O anjo tem asas de águia, animal que pode fitar o sol diretamente. O nome de Juan Diego na língua indígena fazia referência a uma águia.

Eis alguns símbolos contidos na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e que falaram claramente para os índios da época, trazendo-os a Cristo. No momento em que a Igreja perdia a metade de seus filhos na Europa em virtude da heresia e da revolta protestantes, Deus recebia em sua casa novos povos do novo mundo. Agradeçamos a Deus pela sua bondade infinita, pela sua inefável providência. Por nos ter permitido a chegada de colonizadores católicos em nossa pátria e em nosso continente, tirando-nos do tenebroso paganismo. Rezemos a Nossa Senhora de Guadalupe pelo Brasil, pelas Américas. O paganismo brutal que ela veio destruir com sua aparição na colina de Tepeyac está voltando, se é que já não voltou, sob nova forma. Os sacrifícios humanos estão voltando, no aborto, na eutanásia, no assassinato dos inocentes que vemos ocorrer no dia a dia de nossas cidades. Tudo isso fruto de uma sociedade sem s Cristo sem a Igreja.

Que Nossa Senhora nos traga novamente o Sol, que é Jesus Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A Mulher coroada de estrelas: a necessidade da devoção a Nossa Senhora para a alcançar a salvação

Sermão para a Festa da Assunção de Nossa Senhora
18 de agosto de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Apareceu um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apoc. 12, 1)

A Assunção de Nossa Senhora significa que ela, depois de passar a sua vida aqui na terra, subiu aos céus em corpo e alma. A Assunção de Nossa Senhora sempre foi verdade ensinada pela Igreja, é verdade contida na doutrina dos Apóstolos. Todavia, foi em 1950, com o Papa Pio XII, que a Assunção de Nossa Senhora ao céu foi proclamada como dogma da fé, quer dizer, a Igreja afirmou infalivelmente que a Assunção é uma verdade revelada por Deus e que devemos acreditar nessa verdade, se queremos nos salvar. Assim, quem nega a Assunção de Nossa Senhora perde automaticamente a fé católica e desagrada a Deus, pois sem a fé é impossível agradar a Deus. Nossa Senhora foi a primeira redimida integralmente, ela foi aos céus em corpo e alma, ao contrário dos santos e de todos os que morrem em estado de graça, que devem esperar a ressurreição do corpo no fim dos tempos. Nossa Senhora é a primeira redimida integralmente porque ela é a corredentora. Convinha que, tendo sido associada tão intimamente à obra de redenção operada por NSJC, ela fosse também intimamente associada à glória d’Ele, pela Assunção em corpo e alma ao céu, e sem que seu corpo conhecesse a corrupção, pois foi esse corpo que deu ao Salvador a sua carne humana. Maria Santíssima, então, subiu aos céus em corpo e alma.

A Festa da Assunção de Nossa Senhora deve, assim, elevar a nossa alma para as coisas celestes, para a nossa verdadeira pátria, que é o céu. Como nos diz a coleta da Missa de hoje, devemos estar sempre inclinados para as coisas celestiais, a fim de podermos participar da glória celeste. Onde está nosso tesouro lá está o nosso coração. Se olhamos para as coisas desse mundo, se nos inclinamos às coisas desse mundo, é porque nosso tesouro está aqui nessa terra e, consequentemente, também o nosso coração, a nossa vontade está apegada às coisas desse mundo. Nossa Senhora, por sua Assunção, nos mostra que nosso tesouro é bem outro. Ela nos mostra que nosso tesouro é a Santíssima Trindade, ela nos mostra que nosso tesouro é seu Filho, Jesus Cristo, a Verdade, o Caminho, a Vida.

Maria Santíssima nos aponta o tesouro a ser buscado – o céu – mas, além disso, ela nos indica, igualmente, o caminho. Ela nos indica o caminho nessa passagem do Apocalipse que compõe o Introito da Missa de hoje: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apocalipse 12, 1) Nossa Senhora está revestida de sol, tendo a lua a seus pés e coroada com 12 estrelas.

1. N. Sra. está revestida de Sol. O sol representa Jesus Cristo, que é a luz do mundo e o Sol de Justiça. Como nos diz S. Paulo, nós devemos nos revestir de Cristo (Rom 13, 14), quer dizer, nós devemos nos revestir do homem novo, criado em justiça e santidade (Efésios 4, 24). Devemos nos revestir de Jesus Cristo para imitar as virtudes d’Ele, para fazer tudo por Ele, com Ele e n’Ele. Devemos nos revestir de Cristo para que os frutos de sua redenção possam nos ser aplicados.

2. Em seguida, Maria esmaga a lua com seus pés: a lua representa aqui o mundo e o seu príncipe, a serpente. A lua é mutável, instável, inconstante, ela tem várias fases. Também o mundo com seus tesouros passageiros, que são os pecados, é mutável. Nossa Senhora esmaga a lua, reduzindo-a ao nada, como Judith (Epístola de hoje) ao matar Holofernes reduziu ao nada os inimigos de Israel. Deus, ao contrário do mundo e do pecado, é eterno e imutável, caros católicos. Céus e terras passarão. A Palavra de Deus não passará. Devemos ser firmes e constantes no serviço de Deus, firmeza e constância que são verdadeira sabedoria. A Sagrada Escritura nos diz: Stultus ut luna mutatur; sapiens autem permanet ut sol. (Eclesiástico 27, 12) O insensato, o tolo é inconstante como a lua; o sábio, porém, é constante como o sol. Devemos esmagar a lua e sermos constantes como o sol, devemos esmagar o pecado, o demônio, o mundo, e devemos ser constantes como Cristo foi constante em fazer sempre a vontade de Deus.

3. Finalmente, Maria Santíssima está coroada de doze estrelas. O Patriarca José, filho de Jacó, teve um sonho em que onze estrelas se prostravam diante dele. Essas onze estrelas eram os irmãos de José, as tribos do povo hebreu, que lhe iriam implorar socorro quando chegasse o tempo das vacas magras.  Essa coroa de Nossa Senhora, com doze estrelas, representa toda a humanidade que deve prostrar-se diante dela, implorando-lhe as graças adquiridas por Cristo na cruz. Essa coroa significa a realeza e a soberania de Maria sobre toda a humanidade e nos mostra como devemos ter veneração e devoção, nesse vale de lágrimas, a tão soberana Rainha e Rainha de Misericórdia.

Assim, se quisermos alcançar o céu, devemos primeiramente olhar para o céu, desejá-lo. Em seguida, devemos nos revestir de Cristo, da sua graça, de suas virtudes. Devemos, igualmente, esmagar o pecado. Mas para fazer tudo isso, devemos ter devoção a Nossa Senhora. Esse último ponto é indispensável, caros católicos. A devoção a N. Sra. é necessária para a nossa salvação.

A devoção a Nossa Senhora é indispensável para a salvação porque para nos salvarmos devemos praticar as virtudes. Para praticar as virtudes, precisamos da graça de Deus. Para alcançar a graça de Deus, necessitamos recorrer a Maria. Necessitamos de Maria para alcançar a graça porque Deus quis que fosse assim. Ele poderia ter feito de outro modo, não há dúvida. Deus não era obrigado a usar uma mera criatura para transmitir as suas graças. Todavia, na sua sabedoria, quis que fosse assim. 1) Devemos ter devoção a N. Sra. porque Deus a escolheu como tesoureira, administradora e dispensadora de todas as sua graças, de sorte que todas passam por suas mãos. Ela é a medianeira de todas as graças. 2) Assim como na ordem da natureza temos necessariamente um pai e uma mãe, também na ordem da graça devemos ter Maria por Mãe, se queremos ter Deus por Pai. 3) A devoção a Maria é necessária porque tendo ela formado a Cabeça do corpo místico – que é Cristo – cooperando com o Espírito Santo, ela forma, também com o Espírito Santo, os membros desse corpo, dessa cabeça, que somos nós os cristãos. Quem quer ser membro de Cristo deve se deixar formar por Maria e pelo Espírito Santo. 4) A devoção a Maria é necessária porque foi no ventre dela que o Espírito Santo formou Cristo, Homem e Deus. Assim, Nossa Senhora possui o molde para formar, pela graça divina, Cristo em nossas almas. E com Maria, Cristo pode ser formado em nossas almas, pela graça, de modo rápido, fácil e suave. Sem a devoção a Nossa Senhora é impossível salvar-se, como de modo semelhante não é possível salvar-se fora da Igreja Católica. Aquele que conhece Nossa Senhora ou tem a possibilidade de conhecê-la e se dá conta ou poderia se dar conta de seu papel fundamental para a salvação, mas deixa de honrá-la e de recorrer a ela, certamente se perderá. É claro e evidente que esse papel fundamental de Nossa Senhora é completamente subordinado a NSJC e dependente d’Ele.

As citações dos Padres da Igreja e dos santos no sentido da necessidade da devoção a Nossa Senhora para alcançar a salvação são abundantes. Por exemplo, São Cirilo de Alexandria, (séc. V, P.G. 77, 1031-1034): “Oh Maria, Mãe de Deus, salve! Por ti encontram a salvação todas as almas fiéis.” São Germano de Constantinopla (séc. VIII, P.G. 98, 350): “Ninguém se salva a não ser por teu auxílio, oh Mãe de Deus! Ninguém fica livre dos perigos a não ser por meio de ti, oh Virgem fecunda!” Santo Idelfonso (séc. VII, P.L. 96, 69, De Virginit. Perp. S. M., c. 4): “Vinde comigo a esta Virgem, se tendes medo de ir, sem ela, ao inferno. Vinde, e escondamo-nos debaixo de seu manto para não nos cobrirmos, um dia, de confusão.” São Bernardo (séc. XII, II Hom. Super Missus est): “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria… Seguindo-a não errarás, rogando-a não terás motivo para desesperar, pensando nela não cairás no erro. Se Maria te socorre, não cairás. Se Maria te protege, não temerás. Se ela te acompanha, não te cansarás. Se ela te for favorável, chegarás ao porto da salvação.” São Boaventura (séc. XIII, Comment. In Luc., c. 1, n. 70): “Quem a honra dignamente, será justificado, mas quem a esquece morrerá em seus pecados. Sim, oh doce Senhora, estão longe da salvação os que não te conhecem; mas quem persevera no tributo de honrá-la, não deve temer a perdição.” Poderíamos ainda citar São Tomás, São Bernardino de Siena e tantos outros, caros católicos. Recomendo fortemente a leitura dos livros Tratado da Verdadeira Devoção a Maria e Segredo de Maria, de São Luís de Montfort, em que ele afirma claramente a necessidade da devoção a Nossa Senhora e o modo de praticá-la. Recomendo o livro Glórias de Maria, de Santo Afonso de Ligório. Mas para concluir essas citações de santos, vejamos o que diz São Leonardo de Porto Maurício, nos seus pequenos discursos para a honra de Maria. Diz o santo: “é impossível que se salve quem não é devoto de Maria.” (Discorssetti ad onore di Maria disc. 7, n.1); e em outro lugar (disc. 16, n. 4) diz: “portanto, sede devotos de Maria, e eu vos asseguro que sereis salvos.” Assim, não há dúvida de que o ensinamento dos santos afirma a necessidade da devoção de Nossa Senhora para a salvação.

E nós podemos concluir a mesma coisa a partir da Sagrada Escritura. Já citamos a realeza de Nossa Senhora, coroada de estrelas no Apocalipse. Vemos no Santo Evangelho que o primeiro a cultuar Nossa Senhora é o Arcanjo Gabriel, ao saudá-la como faz um inferior ao superior: “Ave, gratia plena”, diz o Arcanjo. Vemos Maria honrada por Santa Isabel: “bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre”, diz a prima de Nossa Senhora. Vemos Maria honrada por uma mulher do povo que sem medo clama para Cristo diante da multidão: “bem aventurados os seios que te amamentaram e bem aventurado o útero que te portou.” É relevante o número de vezes que N. Sra. é cultuada nos Evangelhos. Finalmente, NS diz: “discípulo eis aqui a tua mãe”. Ele não diz “João, eis aqui a tua Mãe”, mas “discípulo, eis aqui a tua mãe”. Todo discípulo de Cristo deve ter Maria por mãe e deve recebê-la em sua casa, em seu coração. E deve honrá-la e respeitá-la como mãe e deve carinhosamente recorrer a tão boa mãe para obter dela o alimento espiritual, que é a graça. Todo discípulo de Cristo tem necessariamente N. Sra. por mãe e a honra e recorre a ela como a uma boa mãe, Mãe doce e misericordiosa. E NS nos entrega Maria por mãe quando já está pregado na cruz, quer dizer, no momento mais capital da história da salvação. Precisamos honrar Maria, ter verdadeira devoção a ela!

É evidente, caros católicos, que a finalidade da devoção a Nossa Senhora, como de qualquer devoção, é a união a Cristo, é a devoção a Cristo. O anjo a saúda porque ela vai se tornar Mãe de Deus. Santa Isabel a saúda porque ela já Mãe de Deus. A mulher do povo honra Nossa Senhora porque ela carregou Deus em seu ventre e o nutriu. A devoção a Nossa Senhora nos é necessária para sermos devotos de Cristo porque Cristo quis assim, como já dissemos. Ele quis que fôssemos até Ele pelo mesmo caminho que Ele utilizou para vir até nós. Nossa Senhora direciona e apresenta a Deus toda a honra que recebe de nós e alcança para nós as graças que precisamos. Quando Santa Isabel honra Maria, N. Sra. imediatamente honra Deus recitando o Magnificat, louva a Deus reconhecendo que é Ele a fonte de todo o bem, e que ela é uma pobre escrava do Altíssimo: “Minha alma engradece o Senhor, (…) pois olhou para a humildade de sua serva e fez em mim maravilhas.” Honrar Nossa Senhora é, portanto, honrar Cristo, honrar a Santíssima Trindade. Onde está Maria, lá está Cristo. Onde está Cristo, lá está Maria! Quem honra a Mãe, honra o Filho.

É evidente que a devoção a Nossa Senhora deve ser sólida e verdadeira, sincera. A devoção não é simplesmente usar algumas medalhas ou escapulários, ou dizer algumas orações. Tudo isso é bom, excelente, necessário, mas a verdadeira devoção consiste em recorrer a Maria para que ela nos converta, para que mudemos de vida. A verdadeira devoção consiste em buscar imitar as virtudes de Nossa Senhora.

Alegremo-nos, caros católicos, pois Cristo nos deu na devoção a Maria o caminho mais fácil, curto, perfeito e seguro para nos unir a Ele, união a Cristo que é a finalidade de nossas vidas. É um caminho também necessário para nos unir a Cristo. Maria é, diante de Deus e de seu Filho, uma criatura, infinitamente inferior. Mas para nós, ela é a criatura escolhida por Deus para nos levar a Cristo, para que possamos conhecê-lo e servi-lo melhor. Ela é o caminho para que os frutos da redenção operada por Cristo nos sejam aplicados. Ela nos dirige para Cristo dizendo o que disse aos servos nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A devoção a Maria é ir a Jesus por Maria: ad Iesum, per Mariam. Recorramos a Nossa Senhora sempre, em todas as nossas necessidades. Recorramos a ela, para que, por ela, cheguemos a Cristo: ad Iesum, per Mariam. Maria, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa. Para chegar ao céu, precisamos nos vestir do sol, que é Cristo, devemos esmagar a lua que é o pecado e devemos ser devotos de Nossa Senhora, nossa Rainha e nossa mãe dulcíssima.

Em nome do pai, e do Filho, e do espírito Santo. Amém.